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CHAVES ANTIGA

chaves.antiga@sapo.pt

CHAVES ANTIGA

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O "Guia-álbum de Chaves e seu concelho"

17.06.13 | António Alves Chaves

Ao observar este belo postal antigo (1) há um aspecto que salta à vista, a ausência do pelourinho…!

A indagação sobre o seu paradeiro levou-nos às primeiras décadas do século passado, aos tempos da 1ª República, quando foi transportado de um quintal na Madalena para o Largo de Camões e montado em frente da Câmara Municipal.

Fotografias originais desse tempo não existem, apenas se conhecem quatro  imagens que retratam a localização do pelourinho nesta época. Uma delas foi editada em postal ilustrado (2):

 

 

 

 

As outras desconhecemos se chegaram a ser editadas, duas delas encontram-se na obra que apresentamos a seguir:

 

" FACTOS E NOTÍCIAS (3)

Guia de Chaves

Com o louvável intuito de concorrer para os fundos da Liga Flaviense de Instrução e Beneficência e de chamar a atenção dos turistes para as belezas e recursos de Chaves e seus arredores, publicou o sr. Manuel Rodrigues um curioso e elegante guia, que, além da importante dose de informações, se torna recomendável pelo grande numero de dados históricos que fornece ao visitante desta região. Para nós, o simples facto do nosso bom amigo pôr de parte o seu interesse pessoal e dedicar o seu trabalho à obra da Liga, leva-nos a aplaudir sem restrições a sua ideia, se bem que nos pôe em situação de não podermos analisar insuspeitamente o seu livro. O Flaviense acha-se de tal forma integrado e empenhado no futuro dessa nobre instituição, que tudo quanto para bem dela

se fizer merece o seu imediato aplauso. Quer-nos porém parecer que, sendo, como diz o seu autor, sem pretensões literárias e susceptível de futuras edições que o aumentem e tornem mais copioso em informações sobre as industrias locais, (sobretudo no que trata de esboços de industria existentes nas aldeias das vizinhanças de Chaves e que encerram um carácter puramente nosso), sobre a arte quasi primitiva da região, sobre as ruinas existentes que evocam os tempos da época romana, etc., o livro é digno de ser acolhido como uma bela tentativa. Trabalhos desta natureza são difíceis de organizar. O que tem propriamente valor é a iniciativa de quem pela primeira vez os lança a público. O guia álbum é um livro que servirá de baze a uma futura obra em que surjam todas as belezas, riquezas, tradições e usos desta boa terra, até agora quasi ignorada. Felicitamos o sr. Rodrigues pela sua iniciativa de homem de bem e de verdadeiro flaviense, que acima de tudo põe o culto da sua terra." 

 

É este livrinho que hoje vos apresentamos, volvidos que são 97 anos sobre a data da sua publicação. Profusamente ilustrado com imagens, através das suas páginas somos levados numa viagem ao tempo da Chaves de princípios do século passado, constituindo uma monografia de elevado valor informativo sobre aquela época.

 

 

 

 

Sobre o autor:

Manuel António Rodrigues foi um denodado republicano, teve um papel activo no 31 de Janeiro de 1891 (revolta republicana do Porto), integrando o comité flaviense, em virtude do que chegou a estar preso, e uma forte intervenção política nos primeiros anos da república em Chaves. 

 

 

 Os membros do “Comité Revolucionário de Chaves” em 1912 (4)

 

Integrou a Comissão Administrativa do Concelho de Chaves logo a seguir à proclamação da República, e fez parte do Batalhão Patriótico para a Defesa da República (5). Participou nos confrontos durante as incursões de Paiva Couceiro em 1911-12 e em particular no 8 de Julho de 1912. Mais tarde integrou a comissão política do Partido Evolucionista do dr.  António Granjo (6), foi vogal da Câmara Municipal e comandante dos Bombeiros Voluntários. Faleceu em finais de 1927.

Exerceu a sua actividade profissional como importador de automóveis americanos e agente da marca belga “Minerva Motors”, era também proprietário da Serralharia Rodrigues, no entroncamento da Madalena, oficinas onde foram executados os gradeamentos e portões do Jardim Público e do coreto, entre outras obras espalhadas pela cidade e mandadas erigir pela edilidade.

Foi um dos mais activos membros da "Liga Flaviense de Instrução e Beneficiência" , a qual, entre outras actividades beneméritas, manteve uma Escola Primária, nocturna e gratuita, sob a direcção do professor João Delgado, integrada na Liga Popular Contra o Analfabetismo e subsidiada em 80$00 pelo Ministério da Instrução Pública (7). Era frequentada por adultos e jovens trabalhadores de ambos os sexos.

 

 

Sobre a obra:

B.N.P. Torre do Tombo

Cota H.G. 15446//6 P.        

TÍTULO : Guia-album de Chaves e seu conselho (sic)

AUTOR(ES): Rodrigues, Manuel António, ca 18- -

PUBLICAÇÃO: Porto : [s.n.], 1915 : -- Tip. Progresso)

DESCR. FÍSICA: 66 p. : il. ; 19x27 cm

Colecção: Fundo Geral Monografias

Estado: Mau estado, acesso restrito sob autorização

 

Notas:

(1) Primeiro número de uma coleção de postais editados em data incerta pela “Sociedade de Defeza e Propaganda de Chaves”, com fotografias da autoria de Alberto Alves. Conhecidos como “série azul”, foram impressos em Paris pela firma “Levy et Neurdain”, num belo tom de azul da prússia. Muito apreciados pelos coleccionadores.

(2) Editado pela casa Gomes & Rei, em data incerta, com cliché de Alberto Alves, impresso em Lyon na “Societé Lumiére”.

(3) Jornal “O Flaviense”, Chaves, 18 de Junho de 1916.

(4) Fotografia de Joshua Benoliel, Arquivo Empresa Pública Jornal O Século-Serviço de Fotografia, DGARQ Torre do Tombo, Lisboa.

(5) Jornal “O Semanário”, Chaves, 11 Outubro de 1910, editorial "A proclamação da República em Chaves".

(6) Jornal “O Flaviense”, Chaves, 4 de Julho de 1915, artigo "8 de Julho", António Granjo.

(7) Decreto-Lei 1065, de 31 Outubro de 1914. 

 

 

Bibliografia:

“A República em Chaves”, Júlio M. Machado, 1998

“A República no Distrito de Vila Real (1873-1933)”, Joaquim Aires, 2010