A Feira dos Santos
Recuemos no tempo. Os Celtas, ”os Santos não são mais do que a cristianização da festividade celta samhain, que decorria na noite de 31 de outubro para 1 de novembro (início do nova ano celta).1
Mais tarde, a igreja cristã, na pessoa do Papa Gregório IV, em 835, uniformiza a data de 1 de novembro para a celebração do Dia de Todos-os-Santos.2
Nas suas origens podem estar, também, as feiras francas instituídas à vila de Chaves, por D. Dinis (1289), por D. João I (1410) e por D. Manuel I (1509).
Mais recentemente, foi difícil conciliar a Feira com o Dia dos Fiéis Defuntos, a polémica instalou-se…
É difícil sabermos quando foi a 1.ª Feira Anual dos Santos; o primeiro sinal é dado numa ata camarária, datada de 1860, onde consta a escolha dos lugares para os feirantes; em 1884, instala-se na rua do Olival, regressando ao Arrabalde e ao Olival, em 1896. A feira do gado situava-se no largo do Tabolado.
Em 1904, faz-se coincidir a Feira com a inauguração da luz elétrica.
A partir de 1905, a câmara deliberou “doravante se permite a exposição e venda de gado e géneros”, nos seguintes locais:
1 – Largo de S. Roque: gado suíno
2 – Largo do Tabolado: gado bovino, cavalar, muar, ...
3 – Largo Rui e Garcia Lopes (Arrabalde): ferros, louças, ...
4 – Antigo Mercado (rua do Olival): géneros alimentícios
5 – Largo 8 de Julho (Anjo): lãs e queijos
Inicialmente organizada pela Câmara Municipal, em 1917 passou para a alçada da Associação Comercial (sita no palacete do Botelho, na Rua de Santo António), volta para a alçada da Câmara e, a partir de 1993, passa a ser a ACISAT a organizar, sempre com o apoio da Câmara.
Apenas algumas notas curiosas, entre outras, sendo de registar que a edilidade, em 1938, decide-se pelo Largo das Freiras e ordena que as barracas sejam de madeira e “de tipo único e os taipais todos da mesma altura”2
"Como já por ali fervilham as roletas e os batoteiros…” (in “O Intransigente”, 1886), “Está muito animada …lindos fantoches e também muitas roletas…para quem gostar.” (in “O Povo de Chaves”, 1890),, “ali mesmo, no Arrabalde, havia roletas com os castelinhos de coroas, a chamariz dos infelizes. A jogatina foi desenfreada. A batota foi franca, foi como nunca se viu em Chaves” (in “A Voz de Chaves” 1904), “haverá exibição dos interessantes espectáculos cinematographicos, com música nos intervalos.” (in “O Intransigente” 1904) e “Do Porto viera aviso …20 carteiristas, (…). Alguns foram presos por suspeitas, sendo um deles, ao que se dizia, o chefe da quadrilha” (in “Região de Chaves”, 06/11/1924) 3
Quem não se lembra dos prémios das montras, dos espetáculos cinematográficos, dos comboios especiais, dos barraquistas Francisco Morais e Albano dos Santos, da “cabra 5 patas”, dos robertos (“i eu torno a escoitar!!!!!”), do pucarinho, de fazer “direta” (o Sport, o Geraldes, o Jorge e o Central não fechavam as suas portas), de roubar um pretinho com a pila vermelha, do Romualdo (dos matraquilhos), do ratinho da sorte, do Sr. Faro (Sai sempre!), das espanholas, dos bailes,…
A Feira dos Santos, com os tempos, cresceu …foi-se espalhando pela cidade, tentáculos dum polvo. Foi-se adaptando aos tempos… fervilhando de pessoas… internacionalizando-se (os habituais espanhóis e ciganos, mais os africanos, sul americanos e orientais).
Realmente já não é o que era… Outros tempos! Felizmente.
1 “Por Aquas Flavias”, Manuel Carvalho Martins
2 “A Feira-Festa Anual dos Santos em Chaves”, Manuel António Pereira
3 Jornais de Chaves