Rua do Tabolado, 1961.
Estavamos no ano de 1961, um Senhor chamado José Correia, ou melhor, o popularíssimo "Lombudo", do qual só se vê a sua sombra, resolve fotografar este quarteto mesmo em frente à sua oficina de bicicletes. Quarteto esse que vamos apresentar: esq/drt- Antunes ( que tinha uma oficina de bicicletes nao Campo da Fonte), Anibal Augusto Milhais* ( "Soldado Milhões"), José Lopes ( Neto do Fotógrafo) e José Ferreira ( tinha uma oficina de máquinas de costura nesta Rua).
Foto gentimente cedida por José Lopes, Neto do "Lombudo"
* O Soldado Milhões
Nesta batalha a 2ª Divisão do CEP foi completamente desbaratada, sacrificando-se nela muitas vidas, entre os mortos, feridos, desaparecidos e capturados como prisioneiros de guerra. No meio do caos, distinguiram-se vários homens, anónimos na sua maior parte. Porém, um nome ficou para a História, deturpado, mas sempiterno: o Soldado Milhões.
De seu verdadeiro nome Aníbal Milhais, natural de Valongo, em Murça, viu-se sozinho na sua trincheira, apenas munido da sua menina, uma metralhadora Lewis, conhecida entre os lusos como a Luísa. Munido da coragem que só no campo de batalha é possível, enfrentou sozinho as colunas alemãs que se atravessaram no seu caminho, o que em último caso permitiu a retirada de vários soldados portugueses e ingleses para as posições defensivas da rectaguarda. Vagueando pelas trincheiras e campos, ora de ninguém ora ocupados pelos alemães, o Soldado Milhões continuou ainda a fazer fogo esporádico, para o qual se valeu de cunhetes de balas que foi encontrando pelo caminho. Quatro dias depois do início da batalha, foi encontrado por um médico escocês, que o salvou de morrer afogado num pântano.
Regressado a um acampamento português, um comandante saudou-o, dizendo o que ficaria para a História de Portugal, "Tu és Milhais, mas vales Milhões!". Foi o único soldado português da 1ª Guerra Mundial a ser condecorado com o Colar da Ordem da Torre e Espada, a mais alta condecoração portuguesa existente.