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CHAVES ANTIGA

chaves.antiga@sapo.pt

CHAVES ANTIGA

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Chaves e a Crise de 1383/85

05.05.18 | António Alves Chaves

Parte 2: O Cerco e a Tomada de Chaves (1385/86)

 

No cerco a Chaves, as escaramuças foram uma constante. Numa delas morreu um capitão do exército português. Segundo Ribeiro de Carvalho, o rei vendo “da impossibilidade de se apossar de Chaves”, desceu à veiga com alguns dos seus homens, para reconhecimento. Os sitiados fizeram de imediato uma sortida, obrigando-os a “retirarem velozmente” e levando muitos feridos. (1)

Segundo Marcelo Reis da Encarnação, o cerco não foi nada fácil porque a vila estava bem defendida e as condições climatéricas eram adversas (“ao arraial cahio tamta neve” (2).

 

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A vila fortificada de Chaves (gravura de Júlio Montalvão Machado)

 

A preparação faz-se em finais de 1385 mas “só no início de 1386, 15 de janeiro (8), é que os soldados começaram a ser dispostos no terreno para cercar a cidade e começaram a ser feitas as máquinas de guerra.“ (4). Uma bastida (torre de assalto) é destruída pelos sitiados e outra mais forte e alta, para chegar às ameias, é construída (“E a bastida era taõ forte”, “que era mais alta do que o muro” e “de dia e de noute, e derribavaõ no castello e na villa muitas casas e matavaõ gemtes e faziam muito danno” (2)

 

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 Exemplo de bastida ou torre de assalto (gravura do cerco de Lisboa)

 

Para “a campanha de Trás-os-Montes”, de Lisboa, e pago às suas custas, chegam reforços, enviando 660 homens entre lanças, besteiros e apeados (5). O rei ordena, em fevereiro, a vinda das milícias de Coimbra e Setúbal. (7)

 

Chama o Condestável, Nuno Álvares Pereira, que andava pelas terras castelhanas, tendo em outubro vencido os castelhanos em Valverde de Mérida. O Condestável vem até Chaves com “oitemta lamças” (7).

  

Dizia Ribeiro de Carvalho no seu livro “Chaves Antiga” que a população de Chaves andaria pelas 1 000 habitantes, vivendo dentro das muralhas.

Entretanto o rei mandou pilhar algumas localidades da Galiza: Porqueira, Gondiães, Viana del Bollo e Alhariz, trazendo muitos mantimentos tão necessários porque havia míngua deles (pão, vinho, castanhas, nozes, carnes e forragens). Conta Fernão Lopes que nas sortidas “iam bem duas mil e a vezes mais (azemulas)”.

 

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Vendo-se perdido o alcaide pede 40 dias de paz. Deixa seu filho como refém e envia um emissário ao rei de Castela. Este responde que entregue a vila de Chaves ao rei de Portugal e siga para Monterrei. (3)

 

O alcaide e os seus homens seguem para Monterrei e, no caminho, são apupados e escarnecidos, segundo era costume fazer aos vencidos.

 

O cerco durou 3 meses e meio, terminando a 30 de abril, segundo dados de Henrique Baquero. (8)

 

O rei D. João I entra, vitorioso, na vila, pela ponte romana, “El Rey foy a vila e emtrou no castello, e ouviu missa” (2). Armou três cavaleiros da Ordem do Hospital, doa a vila e seu termo ao Condestável e, este, nomeia para alcaide Vasco Machado, seu leal escudeiro.

 

Assim a vila passou de “senhorio da coroa” para “senhorio particular”. As gentes de Chaves não gostaram, tudo tentaram: “Os moradores de Chaves opuseram-se que Chaves passasse da “coroa” para um “particular”; esta revolta levou a que Nuno A. Pereira mandasse um emissário (“ouvidor”), Vasco Gonçalves, com instruções muito firmes. (6) O rei não cedeu às pretensões.

 

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  D. Nuno Álvares Pereira

 

As hostes de D. João I seguiram para Bragança. O Condestável acompanhou-o.

 

Referências bibliográficas:

(1) “Chaves Antiga”, Ribeiro de Carvalho, 1929

(2) “Crónica de D. João I”, Fernão Lopes, 1944

(3) “Crónica del rey D. Juan I”, Pedro Lopez Ayala

(4) “A guerra vista de cima”, Marcelo F. Reis da Encarnação, 2006

(5) “A Revolução de 1383”, António Borges Coelho, 1981

(6) “Crónica da Vila Velha de Chaves”, Júlio M. Machado, 1994

(7) “Engenhos, armas e técnicas de cerco na Idade Média portuguesa (séculos XII-XIV)”, Bárbara Patrícia Costa, 2014

(8) “Portugaliae Histórica”, Humberto Baquero Moreno, 1973